18 de jan. de 2010

Sou?


Eu sempre fui menina jogada. No colégio, nunca tive aquela turma bacana, muito menos amigos aos montes. Desde bem pequena carreguei rótulos diversos, nada que me fizesse aspirar mudar, afinal meus traços típicos valiam mais que qualquer Sistema. Confesso que meu gênio é desde fedelho bastante forte. Nunca fui aquela que aceita tudo e acha graça do espetáculo, na verdade meu riso é um pouco contido. Talvez essa ausência em mostrar os dentes e a inflexibilidade com o outro tenha me atrapalhado um pouco durante esse tempo. Não sou dessas pessoas extravasadas, que bebem,dançam até o chão, fazem carão de mais, filosofam de mais, se acham de mais, acaloram-se de mais. Sou demasiada sistemática, jamais imaginaria eu dando vexames na residência alheia, embora nos dias de hoje isso seja algo normal e totalmente aceitável. Sou bastante esquisita.

Eu era uma criança fora dos padrões, talvez seja esse o motivo de nunca ter sentado em rodinhas de meninas na hora do recreio, elas não me suportavam, eu cheirava criança e elas modinhas e perfume francês, verdadeiras miniaturas de mulheres com várias décadas vividas. Elas eram fadigosas. Eu nunca tive Barbie, Polly, nem esses brinquedos que não tinha como brincar. Eu sempre gostei de criar minhas próprias coisas, eu era fascinada por Legos, toquinhos de madeira, era bacana contemplar minha obra, arduamente arquitetada. O que hoje explicaria todo esse meu jeito complexo, cheio de detalhes e manias estranhas, meu jogos minhas regras..continuo assim, hora invento algo,logo depois desmancho, invento de novo. Sou bastante diversa.


Fui moleca branquela de cabelo chanel. Sentia-me contente em ganhar uma nova sandálinha, daquelas de coro, eu só gostava delas, aquelas modinhas de plástico além de ser desconfortáveis, me davam bolhas, e bolhas nos pés de criança é muito tormento. Decretei que só usaria o mesmo modelo de sandália durante muitos anos e quando não eu ficaria descalça, eu sempre gostei de sentir os pés no chão, era espirituoso sair pisando e sentindo o calçamento quente, o piso frio, a terra cheia de minhoca mexendo, a cada passo um novo achado. Quiçá isso abrolha em mim como uma disposição consciente de existir em uma realidade com bases sólidas, no entanto deparando com alternativas de me varrer do ócio e prosaico. Sou bastante assim.
 

M.R.G.T




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