19 de abr. de 2010

Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.Tenho me fatigado tanto todos os dias.
Vestindo, despindo e arrastando amor,infância, sóis e sombras.Vou dizer coisas terríveis à gente que passa.
Dizer que não é mais possível comunicar-me. [Em todos os lugares o mundo se comprime.].Não há espaço para sorrir ou bocejar de tédio.As casas estão cheias. As mulheres parindo sem cessar.Os homens amando sem amar, ah, triste amor desperdiçado. Desesperançado amor.Serei eu só.A revelar o escuro das janelas, eu só Adivinhando a lágrima em pupilas azuis.Não há jeito.
Preparo-me e aceito-me.
Carne e pensamento desfeitos. Intentemos,
Meu pai, o poema desigual e torturado.
E abracemo-nos depois em silêncio.
Em segredo.

Hilda Hilst (Roteiro do Silêncio)

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