27 de mar. de 2010

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas de mais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não se vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com a minha solicitude, e se ela for excessiva saiba dizer-me isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba a minha fragilidade e não se ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu fizer um disparate o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo de mais.
Que o outro sinta quando me dói a ideia de perda, e ouse ficar comigo um pouco – em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas talvez o seu medo ou a sua culpa.

Que se estiver numa fase difícil o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo: “Olha que estou a ter muita paciência contigo!”
Que se me entusiasmar por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame ingénua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que quando me levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha logo atrás de mim reclamando: “Mas que maçada essa tua mania, volta para a cama!”
Que se eu pedir um segundo aperitivo no restaurante o outro não comente logo: “Livra, mais um?”
Que se eu eventualmente perder a paciência perder a graça e perder a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro – filho, amigo, amante, marido – não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não posso ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa"

Lya Luft

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